
Zeca Afonso
Por trás daquela janela [bis]
Faz anos o meu amigo / E irmão
Não pôs cravos na lapela
Por trás daquela janela
Nem se ouve nenhuma estrela
Por trás daquele portão
Se aquela parede andasse [bis]
Eu não sei o que faria / Não sei
Se a minha faca cortasse
Se aquela parede andasse
E grito enorme se ouvisse
Duma criança ao nascer
Talvez o tempo corresse [bis]
E a tua voz me ajudasse / A cantar
Mais dura a pedra moleira
E a fé, tua companheira
Mais pode a flecha certeira
E os rios que vão pró mar
Por trás daquela janela [bis]
Faz anos o meu amigo / E irmão
Na noite que segue o dia [bis]
O meu amigo lá dorme / De pé
E seu perfil anuncia
Naquela parede fria
Uma canção de alegria
No vai e vem da maré
Por trás daquela janela [bis]
Faz anos o meu amigo / E irmão
Não pôs cravos na lapela
Por trás daquela janela
Nem se ouve nenhuma estrela
Por trás daquele portão
"José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos, filho de um juiz e de uma professora primária, nasceu, em Aveiro, em 2 de Agosto de 1929, tendo passado os primeiros anos de vida entre a terra natal, Angola e Moçambique. "Bicho-cantor" foi a alcunha que lhe deram no liceu, por cantar serenatas durante as praxes. Nesta altura conhece a vida boémia e os fados tradicionais de Coimbra.
Entre 1946 e 1948, enquanto terminou o liceu, conheceu a costureira Maria Amália de Oliveira, com quem casou às escondidas, devido à oposição dos pais.
Quando, em 1949, ingressou no curso de Ciências Histórico Filosóficas, da Faculdade de Letras, revisitou Angola e Moçambique, integrado numa comitiva do Orfeão Académico da Universidade de Coimbra.
Em 1953, nasceu o primeiro filho, José Manuel, e, enquanto dava explicações e fazia revisões no "Diário de Coimbra", viu os primeiros discos serem editados. O Emissor Regional de Coimbra, da Emissora Nacional, foi o local escolhido para a gravação dos dois discos, de 78 rotações, com faixas de fados de Coimbra.
"Fados de Coimbra" é o título do primeiro EP, editado em 1956. Nos finais dos anos 50, princípios de 60, começou a frequentar colectividades e a cantar, com regularidade, em festas populares.
Em 1963, concluiu o curso, com uma tese sobre Jean-Paul Sartre e a nota de 11 valores. A senha para o início da Revolução de Abril, "Grândola Vila Morena", nasceu após Zeca Afonso se ter inspirado numa actuação na Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense, em Maio de 1964. O único disco editado pela Valentim de Carvalho, "Cantares de José Afonso", é desse ano, altura em que regressou a Moçambique, onde viveu e leccionou durante três anos. O regresso a Portugal deveu-se à oposição José Afonso ao sistema colonial .
O destino, desta vez, foi Setúbal, onde foi colocado como professor, tendo sofrido uma grave crise de saúde que o forçou ao internamento hospitalar durante vinte dias. Quando recuperou, ficou a saber que tinha sido expulso do ensino oficial, passando a viver de explicações que dava. O PCP chegou a convidá-lo, por esta altura, a entrar para o partido, mas José Afonso recusou alegando a sua condição de classe.
O álbum "Contos Velhos Rumos Novos" e o single "Menina dos Olhos Tristes", que contem a canção popular "Canta Camarada" , são editados em 1969. Seguem-se "Traz Outro Amigo Também", em 1970, gravado em Londres, "Cantigas do Maio", em 1971, gravado em Paris, e, no ano seguinte, "Eu Vou Ser Como a Toupeira", editado em Madrid. Em Abril de 1973, foi preso, passando vinte dias em Caxias, e no Natal desse ano gravou, em Paris, "Venham Mais Cinco", com a colaboração musical de José Mário Branco, então exilado na capital francesa.
Muitas outras canções, espectáculos e prémios surgiram nos anos posteriores à revolução e, em 1982, os primeiros sintomas da doença que lhe causou a morte, uma esclerose lateral amiotrófica, começaram a manifestar-se.
No último álbum, "Galinhas do Mato", editado em 1985, Zeca Afonso já não conseguiu cantar todos os temas, sendo substituído por muitos cantores portugueses, como Luís Represas e Janita Salomé.
Dois anos mais tarde, no dia 23 de Fevereiro, às 3:00 h, José Afonso morreu, no Hospital de S. Bernardo, em Setúbal. "
Por ter sido uma figura impar da nossa cidade, amante incondicional de Coimbra e da sua Academia, por estarmos a entrar na época do ano em que mais e melhor sentimos o orgulho e prestigio que é viver e estudar nesta tao grande e conceituada Universidade, venho assim prestar homenagem a esse grande homem que foi José Afonso, a voz de Coimbra!
Em cada fado, serenata, balada ou choro de guitarra, há um pouco de Zeca Afonso!