terça-feira, março 23, 2004

Última Carta

Mãe e Pai

Deixo vos aqui esta última triste recordação depois de tantas q com certeza têm minhas. Não vos tenho dado notícias. Desculpem. Fugi de casa para encontrar paz a fim de poder meditar sobre a minha pálida existência. Vocês sabem como ninguêm como sou cobarde, como nunca consegui enfrentar nada sem ajuda. Agora percebo que nem a vida consegui enfrentar. Tudo o que fiz para o negar foi em vão. Na amizade mostrei-me péssimo confidente, egocêntrico, falso...Com o amor foi diferente. Apaixonei-me, fui feliz, fui amado. Traí. Fui cobarde e não o admiti. Perdi quem me amava, e com isso perdi-me. Droguei-me mãe...A droga que injectei ditou este meu fim precoce. Tudo o que na vida me ensinaste foi em vão. Toda a minha vida foi sem sentido, descobri entretanto. Morrer já não é para mim um medo, mas um desejo. Não acredito em Deus, nem em nada consigo relacionado, e nunca fui capaz de to dizer Pai. Ia à missa ao domingo contigo e só rezava para que ela acabasse. Desculpa. Está um dia frio, e eu amo-vos tanto, por isso tremo por todos os lados. Quero uma morte lenta, sofrida, para que sinta no corpo o que vocês sentiram por mim. A minha última recordação será a de uma família unida e feliz que um dia fomos, mas que como tudo, passou num ápice.
Um abraço deste que tanto vos quer.
Não, não irei aí pelo Natal.

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