domingo, abril 29, 2007


Zeca Afonso





Por trás daquela janela [bis]


Faz anos o meu amigo / E irmão


Não pôs cravos na lapela


Por trás daquela janela


Nem se ouve nenhuma estrela


Por trás daquele portão


Se aquela parede andasse [bis]


Eu não sei o que faria / Não sei


Se a minha faca cortasse


Se aquela parede andasse


E grito enorme se ouvisse


Duma criança ao nascer


Talvez o tempo corresse [bis]


E a tua voz me ajudasse / A cantar


Mais dura a pedra moleira


E a fé, tua companheira


Mais pode a flecha certeira


E os rios que vão pró mar


Por trás daquela janela [bis]


Faz anos o meu amigo / E irmão



Na noite que segue o dia [bis]


O meu amigo lá dorme / De pé



E seu perfil anuncia


Naquela parede fria


Uma canção de alegria


No vai e vem da maré



Por trás daquela janela [bis]


Faz anos o meu amigo / E irmão



Não pôs cravos na lapela


Por trás daquela janela


Nem se ouve nenhuma estrela


Por trás daquele portão







"José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos, filho de um juiz e de uma professora primária, nasceu, em Aveiro, em 2 de Agosto de 1929, tendo passado os primeiros anos de vida entre a terra natal, Angola e Moçambique. "Bicho-cantor" foi a alcunha que lhe deram no liceu, por cantar serenatas durante as praxes. Nesta altura conhece a vida boémia e os fados tradicionais de Coimbra.
Entre 1946 e 1948, enquanto terminou o liceu, conheceu a costureira Maria Amália de Oliveira, com quem casou às escondidas, devido à oposição dos pais.
Quando, em 1949, ingressou no curso de Ciências Histórico Filosóficas, da Faculdade de Letras, revisitou Angola e Moçambique, integrado numa comitiva do Orfeão Académico da Universidade de Coimbra.
Em 1953, nasceu o primeiro filho, José Manuel, e, enquanto dava explicações e fazia revisões no "Diário de Coimbra", viu os primeiros discos serem editados. O Emissor Regional de Coimbra, da Emissora Nacional, foi o local escolhido para a gravação dos dois discos, de 78 rotações, com faixas de fados de Coimbra.
"Fados de Coimbra" é o título do primeiro EP, editado em 1956. Nos finais dos anos 50, princípios de 60, começou a frequentar colectividades e a cantar, com regularidade, em festas populares.
Em 1963, concluiu o curso, com uma tese sobre Jean-Paul Sartre e a nota de 11 valores. A senha para o início da Revolução de Abril, "Grândola Vila Morena", nasceu após Zeca Afonso se ter inspirado numa actuação na Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense, em Maio de 1964. O único disco editado pela Valentim de Carvalho, "Cantares de José Afonso", é desse ano, altura em que regressou a Moçambique, onde viveu e leccionou durante três anos. O regresso a Portugal deveu-se à oposição José Afonso ao sistema colonial .
O destino, desta vez, foi Setúbal, onde foi colocado como professor, tendo sofrido uma grave crise de saúde que o forçou ao internamento hospitalar durante vinte dias. Quando recuperou, ficou a saber que tinha sido expulso do ensino oficial, passando a viver de explicações que dava. O PCP chegou a convidá-lo, por esta altura, a entrar para o partido, mas José Afonso recusou alegando a sua condição de classe.
O álbum "Contos Velhos Rumos Novos" e o single "Menina dos Olhos Tristes", que contem a canção popular "Canta Camarada" , são editados em 1969. Seguem-se "Traz Outro Amigo Também", em 1970, gravado em Londres, "Cantigas do Maio", em 1971, gravado em Paris, e, no ano seguinte, "Eu Vou Ser Como a Toupeira", editado em Madrid. Em Abril de 1973, foi preso, passando vinte dias em Caxias, e no Natal desse ano gravou, em Paris, "Venham Mais Cinco", com a colaboração musical de José Mário Branco, então exilado na capital francesa.
Muitas outras canções, espectáculos e prémios surgiram nos anos posteriores à revolução e, em 1982, os primeiros sintomas da doença que lhe causou a morte, uma esclerose lateral amiotrófica, começaram a manifestar-se.
No último álbum, "Galinhas do Mato", editado em 1985, Zeca Afonso já não conseguiu cantar todos os temas, sendo substituído por muitos cantores portugueses, como Luís Represas e Janita Salomé.
Dois anos mais tarde, no dia 23 de Fevereiro, às 3:00 h, José Afonso morreu, no Hospital de S. Bernardo, em Setúbal. "




Por ter sido uma figura impar da nossa cidade, amante incondicional de Coimbra e da sua Academia, por estarmos a entrar na época do ano em que mais e melhor sentimos o orgulho e prestigio que é viver e estudar nesta tao grande e conceituada Universidade, venho assim prestar homenagem a esse grande homem que foi José Afonso, a voz de Coimbra!



Em cada fado, serenata, balada ou choro de guitarra, há um pouco de Zeca Afonso!

1 comentário:

Anónimo disse...

uma figura impar da musica portuguesa. Uma voz inesquecivel,um trauteador de emoções, uma arma artistica contra o regime opressor. Tudo isto foi José Afonso, um icon nao so da cultura coimbrã como um simbolo da cultura portuguesa.

Já que estamos em epoca de queima deixo os seguintes versos:
" Venham mais cinco
Duma assentada
Que eu pago já
Do branco ou tinto
Se o velho estica
Eu fico por cá"

Abraço Fducsiano